Mais de 20 anos como profissional do futebol. Do alto dos seus 35 anos, Reinaldo Aleluia deveria ter adquirido rodagem suficiente para lidar com críticas e provocações sem exceder os limites da relação atleta-torcedor.
Não parece o caso. Ontem, o atacante não suportou as ofensas vindas das arquibancadas do Estádio Armando Oliveira e acertou um tapa no peito do segurança Eliseu Evangelista. O suficiente para iniciar um pequeno tumulto nas dependências do estádio.
“Infelizmente, o torcedor tem essa postura. A equipe está classificada e só perdeu duas partidas durante todo o campeonato. Chateia, mas fica a experiência para a próxima oportunidade. Se voltarmos a treinar aqui, não vamos liberar a abertura dos portões”. Comelli não comentava o ocorrido, mas parecia prever reação incisiva da torcida.
“Jogadorzinho”; “Aleluia, você é horrível”; “sai daí, Aleluia”. Evangelista, 46 anos, se destacou dentre os pouco mais de 50 torcedores que acompanhavam o coletivo do Bahia, ontem à tarde, pela postura agressiva. Perseguiu com especial furor Didi, Pantico e Reinaldo Aleluia, considerados os principais culpados pela falta de gols do time. “Quero ver Elias e Cristiano no ataque”, bradava a plenos pulmões desde que a bola começou a rolar.
E esse foi mesmo o ataque montado no início do trabalho, com Ananias encostando pela direita. Mas o
time mudou naturalmente no decorrer da atividade. “Os
jogadores vêm de uma viagem desgastante e treinamento forte ontem (anteontem)”, observou o treinador. Nada mais óbvio. Afastados dos primeiros minutos, Didi e Pantico ganharam vaga entre os titulares; Aleluia na equipe reserva.
A senha para as provocações voltarem com força. Quando a situação parecia contornada, o cerco da imprensa disse tudo. “Ele me deu um tapa no peito. Veio aqui agredir um torcedor”, berrava Evangelista. Na saída do campo, no caminho para o ônibus, outro rapaz teria sido empurrado na confusão. Um pequeno grupo seguiu os atletas e desafiou Aleluia a descer. Em vez dele, o segurança do clube, que fez vistas grossas a câmeras e microfones para empurrar Evangelista portão do estádio afora.
O Bahia decidiu não tomar nenhuma medida administrativa sem antes ouvir as versões do jogador e do segurança. “Saí de lá antes, porque fui com meu carro particular, e não tomei conhecimento de nada. Vamos conversar com os dois, mas precisamos minimizar esse tipo de coisa na semana de uma partida decisiva contra o Itabuna. Outra coisa, a gente também não sabe se o cara é torcedor do
Vitória e queria tumultuar o ambiente”, analisou o diretor de futebol Ruy Accioly.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (SJTD) julga hoje o recurso do Bahia referente à perda de sete mandos de campo.
O oito e meio do técnico Paulo Comelli está pronto para a estréia. O canhoto Everton foi o destaque do Bahia no coletivo de ontem, desempenhando exatamente o papel de meia com poder ofensivo capaz de recompor a marcação no meio-de-campo. Misto de volante e armador – requisitos que conhece bem desde os tempos de Ferroviário-CE, Barueri-SP e mais recentemente Iraty-PR.
“Essa sempre foi minha principal característica. Assim ganhei destaque. Venho de trás e encosto nos homens de frente”, explica. No esquema testado ontem à tarde, no Estádio Armando Oliveira, ele e Elias promovem revezamento nos avanços pela esquerda e Ananias fica encarregado pelo lado direito. Cristiano é o único atacante.
Mesmo muito elogiado no dia anterior, Rivaldo começou o coletivo entre os reservas. Pontaria descalibrada, Didi esperou oportunidade fora dos 22 relacionados inicialmente para a atividade. O time teve Darci; Fábio, Alison, Marcone e Adilson; Rogério, Fausto, Everton, Ananias e Elias; Cristiano. Sim, existe a possibilidade de o 4-4-2 reaparecer, com Rogério de volta à função de volante.
A decisão pode ter sido tomada fundamentalmente pela falta de apoio dos laterais ao ataque no 3-5-2. “Temos que analisar isso. Assisti ao teipe da partida contra o Vitória da Conquista e fizemos apenas duas jogadas de fundo, uma com Fábio e outra com Adilson”, reclamou o treinador, que pegou no pé da dupla durante boa parte do treino e não deixou de testar Ayrton e Ávine.
Pantico e Didi entraram no transcorrer da atividade e marcaram os gols da vitória dos titulares por 2x1. Everton sofreu uma pancada no quadril, saiu para fazer tratamento com gelo, mas não preocupa, garante o médico Flávio Jordão. O time só será definido depois do coletivo de sexta-feira. Paulo Comelli lamentou o acerto de Ricardo Silva com o Vitória. O ex-treinador dos juniores estava em Itabuna observando a outra partida das finais e recebeu uma oferta mais vantajosa da diretoria rubro-negra.