O médico Waldemar Costa não sabia, mas acabara de se tornar o primeiro presidente do primeiro clube campeão nacional de futebol. A façanha aconteceu 27 anos depois, em março de 1960, sobre o Santos de Pelé, no Maracanã. Conquista creditada ao talento e esforço dos atletas do treinador Geninho, que, antes, haviam ganho na Vila Belmiro e perdido na Fonte Nova duas outras partidas da final da Taça Brasil de 1959.
A fundação do Esporte Clube Bahia aconteceu após baile comemorativo e ainda na madrugada de entrada do ano de 1931, na Rua Carlos Gomes, número 57, antiga sede do Jóquei Clube. Tinha por objetivo dar seguimento às disputas de ex-atletas de Associação Atlética da Bahia e Clube Bahiano de Tênis, decepcionados com a extinção dos respectivos departamentos de futebol. Carlos Koch, Eugênio Walter, Fernando Tude, Júlio Almeida e Waldemar de Azevedo cumpriam acordo selado no Cabaré do Jokey, em 8 de dezembro. As cores estavam definidas desde dia 12: azul, vermelha e branca. A sede, na Avenida Princesa Isabel, número 142.
O Santos era considerado mais forte. E era. Mesmo assim, deveria ter aprendido a lição. Em 1946, o advogado, jornalista, professor e teatrólogo Adroaldo Ribeiro Costa, aos 28 anos, já havia extrapolado a condição de torcedor tricolor ao escrever a letra e compor a melodia do hino do Bahia. E Adroaldo, ao longo dos anos 40, fez-se mito através de meninos e meninas com o programa educacional Hora da Criança ao colocar a arte a serviço da educação. Com ele, a turma se tornou a voz do campeão, e do povo o clamor.
O presidente Petrônio Barradas, 33º na cronologia, talvez não saiba, mas vai ser o primeiro presidente a completar um ciclo sem disputar a elite do futebol nacional. A façanha acontecerá no segundo semestre de 2008, quando completará três anos no cargo, o Bahia estará a cinco fora da Seria A, e haverá nova eleição, segundo determina o estatuto, atualizado pela última vez em 1981. Reflexo dos sucessivos erros administrativos da diretoria, que, desde maio de 2002 sem montar um time vencedor, amplia ano a ano o maior jejum de títulos da história.
A sina recente distorce tradição de sucesso iniciada antes mesmo de o Bahia disputar seu primeiro Campeonato Baiano. Naquela época, o torneio início antecedia o estadual. Tiro curtíssimo. No domingo 1º de março, os atletas do treinador João Barbosa ganharam por 2x0 do Ypiranga, primeiro rival e então maior vencedor do futebol baiano, e, horas depois, por 3x0 do Royal. Abria-se a galeria de troféus. Teixeira Gomes; Leônidas e Gueguê; Milton, Canoa e Gia; Bayma, Guarany, Gambarrota, Romeu e Pega-Pinto reviviam a lembrança do futebol popular e apaixonado de Associação Atlética da Bahia e Clube Bahiano de Tênis.
O Bahia venceu 43 vezes o Campeonato Baiano em 76 participações. É o maior vencedor. Mesmo assim, precisa aprender a lição. Nos últimos 20 anos, desde o título de campeão brasileiro em 1988, segunda grande façanha, o rival Vitória ganhou 14 estaduais, ele, seis; e o Colo-Colo, um. A conta soma 21, pois o campeonato de 1999 foi dividido após lamentável episódio de um time estar no Barradão e outro na Fonte Nova.
Também por isso, a diretoria refutou acintosamente a idéia de mandar partidas no Barradão após a interdição da Fonte Nova, decorrente do desabamento de parte do lance de arquibancada que resultou em sete mortes, dia 25 de novembro. Era engolir o orgulho e assumir o erro passado. Nada feito, sobrou para Bobô, o craque de 1988, agora administrador da Sudesb, driblar os problemas pessoais e alheios para arrumar o Estádio Metropolitano de Pituaçu até o início da Série B.
Em 2008, aos 77 anos, o Esporte Clube Bahia precisa atuar com a maturidade de um senhor do tempo. Não como um velho mal-acabado. Ser místico como a terra de todos os santos. Intrínseco à torcida que nunca o abandonou. Renascer para vencer e sair da Série B no campo. Ser arisco como Marito e Jésum, valente como Roberto Rebouças e Baiaco, ter Douglas na alma. Ser o Bahia de Adroaldo Ribeiro Costa. A voz do campeão. Do povo, o clamor. Acima de tudo. E todos.